Tala é basicamente o conceito de ritmo dentro do sistema da música Hindustani. A palavra tala ou taal, etimologicamente, quer dizer “palma da mãos”. Deste significado literal advém o sentido primário ou a percepção básica do ritmo: a marcação do tempo, considerando as palmas como a forma elementar de estabelecer um pulso que é a base para todo ritmo e melodia.
Apesar desta designação mais simples como “marcação do tempo”, Tala é mais apropriadamente concebida como ciclo rítmico. É este conceito que mais nos interessa, mas ao final deste texto veremos que o tempo e o ciclo serão conceituados de maneiras distintas e que são dependentes.
A ideia de um ciclo rítmico está baseada em uma forma de perceber o tempo e entendê-lo como algo que não flui linearmente: e isto significa que aquilo que “foi deixado pra trás” vai ser revisitado, aquilo nunca será o mesmo mas ao mesmo tempo é a marca de um recomeço. Para além de toda teoria que possamos criar para explicar este conceito, vemos uma inspiração clara nos movimentos e eventos da Natureza para a ideia de um tempo fluindo em círculo.
Perceber a marca de um recomeço ou onde começa um ciclo é uma experiência que só pode surgir da atenção a cada evento que vai ocorrendo e cada evento marca o tempo e nos dá a própria noção do tempo, sem eventos, acontecimentos, marcas, pulsos e sons não seria possível a determinação de que algo dura.
Na música não é diferente: os ciclos rítmicos e as melodias têm características bem próprias, maneiras de ser que os definem para além de uma classificação como, por exemplo, isto é um ritmo de 7 tempos. Ora, sete tempos ou pulsos podem ser diversas coisas, diversos ritmos podem ser criados, todos sob a mesma classificação do “7”. Por isso quando falamos de ciclos rítmicos é tão importante a atenção à organização interna do ciclo, onde é acentuado, onde não e qual a subdivisão interna etc.
Os aspectos fundamentais para a estruturação de um ciclo são:
- o primeiro pulso ou batida, chamado de SUM, é o mais importante e o mais acentuado de todos – justamente porque existe maior ênfase e é o ponto crucial onde melodia e ritmo se encontram. Acrescentamos ainda que é o ponto onde se conecta o fim e o princípio. Um único pulso, um som, uma nota, o ponto de chegada e o ponto de partida. Toda a beleza da música se encerra em como sair do SUM e voltar nele.
- o pulso não acentuado ou não enfatizado, chamado de KHALI, que literalmente significa “vazio”, em geral é o pulso que sinaliza a metade de um ciclo
- existem em um ciclo também pulsos marcados que são chamados de TALI, neles batemos palma mas ela não seria enfatizada como o SUM. Os TALI marcam a subdivisão de um ciclo e o estruturam. Veremos tudo isso através de exemplos abaixo.
- A distância entre um pulso e outro deve ser mantida, sempre. Isto é enunciado como uma lei, mas trata-se de algo fundamental para o próprio reconhecimento de um padrão rítmico em música. Chamamos este aspecto de LAYA e nele se encontra toda a fundação do ritmo e de toda variação possível sobre um padrão, seja este melódico ou rítmico. Comumente podemos chamar isso de tempo ou andamento.
Apresentamos agora as estruturas básicas (theka) de alguns taali. Representamos o SUM com um X e o pulso acentuado (TALI) com números (1,2,3 etc) e o pulso não acentuado ou “vazio” (KHALI) com um 0. A acentuação que marca os vibhags (subdivisões) são marcadas com x.
Abaixo de cada taal adicionamos gravações de três velocidades diferentes de execução. A estrutura do theka geralmente é mais clara em execuções mais rápidas (drut laya).
Vilambit significa “lento”, Madhya,”médio” e Drut, “rápido”. São as únicas denominações da Música Hindustani para o andamento (LAYA), elas não são absolutas e dependem muito do caráter do RAGA ou do estilo da composição executada.
Taal Dadra (6 pulsos divididos em: 3 + 3)
[X] DHA DHIN NA [0] DHA TUN NA
Vilambit laya (53bpm): arquivo-dv
Madhya laya (90bpm): ouvir-dm
Drut laya (180bpm): ouvir-dd
Taal Kaharwa (8 pulsos divididos em: 4 + 4)
[X] DHA GE NA TI [0] NA KE DHIN NA
Vilambit laya (55bpm): ouvir-kv
Madhya laya (90bpm): ouvir-km
Drut laya (150bpm): ouvir-kd
Taal Rupak (7 pulsos divididos em: 3 + 2 + 2)
[0] TIN TIN NA [2] DHIN NA [3] DHIN NA
(Nesta tala o SUM coincide com o KHALI, isto é uma rara excessão).
Madhya laya (90bpm): ouvir-rm
Drut laya (160bpm): ouvir-rd
Taal Jhaptaal (10 pulsos divididos em: 2 + 3 + 2 + 3)
[X] DHIN NA [2] DHIN DHIN NA [0] TIN NA [3] DHIN DHIN NA
Vilambit laya (30bpm): ouvir-jv
Madhya laya (100bpm): ouvir-jm
Drut laya (190bpm): ouvir-jd
Taal Tintaal (16 pulsos divididos em: 4 + 4 + 4 + 4)
[X] DHA DHIN DHIN DHA [2] DHA DHIN DHIN DHA
[0] DHA TIN TIN TA [3] TA DHIN DHIN DHA
Vilambit laya (30bpm): ouvir-tv
Madhya laya (90bpm): ouvir-tm
Drut laya (180bpm): ouvir-td
Drut laya (262bpm): ouvir-tdd